sábado, 11 de fevereiro de 2012

"TÁ NA MÃO"


Por Fábio Felipe – Jamaica - Graduando em Licenciatura Plena de Educação Física Centro Universitário Central Paulista UNICEP





Soltar pipa é uma das atividades mais escolhidas pelos meus alunos e demais crianças de todo o Brasil, principalmente nos meses de julho e final de dezembro. Em períodos de férias a brincadeira não requerer espaços elaborados e baixo custo dos materiais facilita a prática.
O problema começa quando os objetivos de soltar pipas tomam ares de competição, costumes passados através de gerações às crianças por adultos.
Quando a oportunidade de atividade é aproveitada de maneira pedagógica, pode proporcionar uma série de aprendizados auxiliando na construção do conhecimento de crianças, jovens e adultos. Muitas crianças não sabem confeccionar as pipas então a oportunidade de orientação pode ser aproveitada por parte de educadores, comunidade e escola. Trabalhar medidas, cores, coordenação fina, equilíbrio, fortalecimento de membros inferiores, trabalho em grupo com familiares e demais orientações. São algumas das atividades propostas de forma lúdica que trabalha o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor.
“Desbica em cima, descarrega logo, corta não mão, corre... corre, tá na mão!”
Essas são as sequências de frases ditas por crianças e pipeiros durante o processo de transformação da brincadeira entre colegas em um conflito de adversários. Esse "Tá na mão" gera brigas pela disputa de quem pegou realmente a pipa que foi cortada, alguns acham que o dono é quem pegou pela linha, outros, quem pegou na pipa. Nesse momento esses meninos sentem a necessidade de tirar a pipa do outro e não medem consequências. Nos exemplos mostrados nas fotografias, minha aluna quase perde a ponta do dedo indicador nesse tipo de conflito. Crianças e jovens atravessam ruas correndo sem olhar a presença de carros em sua direção, sobem nos telhados e faz “lança-gato” na rede elétrica, uma espécie de armadilha de linha cortante com dois objetos pesados em cada ponta. São fatores que aumentam ainda mais os riscos de acidentes causados pelo cerol, conflitos e falta de atenção.
As fórmulas mirabolantes de cerol são diversas, essa combinação de vidro moído com cola, linha chilena entre outros produtos, tem provocado diversos acidentes em todo o Brasil. Entre os mais acidentados estão os motociclistas que tem o pescoço atingido como se fosse a lâmina de uma espada transpassando. No pescoço localizam-se veias e artérias que irrigam o sistema nervoso central e demais membros do corpo.
Por esse motivo, a maioria dos acidentes são fatais e as antenas colocadas nas motos, para proteger os motociclistas, não são 100% eficientes já que por causa da linha ocorrem as quedas e consequentemente diversos tipos de lesões, principalmente na região cervical entre possíveis fraturas expostas.
A prevenção permanente e a conscientização são ações fundamentais para diminuir os acidentes. Muitos deles sabem do risco e até mesmo mostram os cantos dos dedos indicadores cortados durante a ação de desbicar a pipa.
A Guarda Municipal sob os cuidados do Comandante Tozato faz um trabalho de conscientização nas escolas com a campanha “Sem cerol é mais legal”. O uso de cerol é proibido na cidade de São Carlos pela lei municipal do ex-vereador Rubens Maciel. Lei que transfere em parte a responsabilidade pelo acidente e/ou ocorrência com cerol aos pais da criança através do pagamento de multa e orientações ao menor. Esse processo pedagógico de conscientização é demorado, pois muitas dessas crianças e jovens que insistem na prática do uso de cerol, receberam essa herança cultural de outros adultos. Os envolvidos devem se mostrar aptos a aprender e colocar em prática o aprendizado. O que deveríamos priorizar "o brincar com, e não o brincar contra”.

Fábio Felipe – Jamaica - Graduando em Licenciatura Plena de Educação Física Centro Universitário Central Paulista UNICEP


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